Quando falamos de gestão, é certo afirmar que não pairam dúvidas sobre a sua definição, um conceito que, em linhas gerais e respeitando as suas variações, consiste em gerir recursos, tarefas e pessoas para atingir resultados e objetivos pré-estabelecidos.
Entretanto, a forma de se fazer gestão e os métodos empregados para isso, mudam de acordo com o contexto e características dos negócios, além das características dos próprios empreendedores que estão à frente da empresa. Esse jeito peculiar de fazer a gestão remonta à cultura organizacional e – não se enganem! – a cultura perpassa todas as organizações independente do porte, da quantidade de colaboradores, públicas e privadas..
Nesse contexto, existe um embate sobre aqueles que defendem uma administração mais tradicional e aqueles que preconizam métodos mais inovadores de gestão. O fato é que existem vícios e mitos associados a ambos os modelos. Vamos nos debruçar sobre alguns deles a seguir:
- Sou da Gestão Tradicional, então é óbvio que todas as decisões devem passar por mim!
- Sou da Gestão Inovadora, então é claro que prezamos por uma estrutura horizontal, onde eu não preciso saber o que o time está fazendo, eu preciso de resultados!
Centralizar as decisões leva a sobrecarga, demora na tomada de decisões, maior possibilidade de erro humano, dentre outros fatores. Por outro lado, não ter nenhuma sistemática de monitoramento das principais funções que deveriam ser desempenhadas pelo time, pode comprometer a visão do gestor em relação ao negócio e alguns percalços podem chegar de surpresa.
- Sou da Gestão Tradicional, então é claro que quem pode dar ideias e opinar sobre o meu negócio sou eu e meus sócios!
- Sou da Gestão Inovadora, então todo mundo pode dar ideias e opinar sobre os rumos do negócio o tempo todo e de todas as formas!
Também é um efeito colateral da centralização, a conduta de empresas que não se valem das ideias e das contribuições que seus colaboradores podem dar. Por vezes, nem mesmo aproveitam o feedback de clientes, fator essencial para manutenção da competitividade. Sem falar no potencial contributivo de outros grupos que orbitam em torno da empresa, como fornecedores, consultores etc. Empresas com essa cultura, são fortemente marcadas pela chamada síndrome de Gabriela, onde ecoa no ego dos seus gestores o mantra: “eu nasci assim, eu cresci assim, vou ser sempre assim…”(referência antiga, mas muito válida!). Negócios assim correm o risco, ou melhor, estão fadados a perderem espaço no mercado.
No outro extremo, é preciso ponderar que ideias, por si só, não elevam a performance, a implementação prática dessa ideias, sim!. Entretanto, não ter um método estruturado para coletar sugestões dos colaboradores, clientes, etc. e também não ter objetivos e critérios claros e definidos para o processo de seleção e implementação das ideias, pode gerar expectativas que serão frustradas.
- Sou da Gestão Tradicional, mas minha empresa está na rede social, então eu posso dizer que eu também sou um pouco inovador!
- Sou da Gestão Inovadora e é evidente que eu adoto todas as ferramentas que surgem como novidade no mercado, ou seja, meu toolkit é de high performer!
Não raro encontramos empresários e empresárias que julgam que seus negócios já estão inseridos no contexto de transformação digital porque estão presentes nas mídias sociais. Porém, a presença digital sozinha não torna uma empresa inovadora, é preciso ir além, uma vez que o escopo da inovação é mais amplo, além disso, a presença digital deve ser alinhada com a estratégia da empresa e o perfil do seu cliente, ou seja, não dá para estar por estar.
Ser inovador também significa insuflar o vocabulário com expressões em inglês e adotar indiscriminadamente ferramentas, métodos e tecnologias novas, só para figurar como inovador na mesa de um bar, ou de uma reunião do clube ou entre empreendedores. O discurso também só se converte em resultado quando é implantado! Ferramentas e métodos, tecnológicos ou não, devem ser implantados na empresa para atender a algum propósito, para melhorar um processo, reduzir custos, ganhar eficiência, captar mais clientes, dentre outros.
- Sou da Gestão Tradicional, sei que tenho resultado só medindo o meu faturamento, enquanto estou pagando o cartão de crédito da família pela empresa, tá bom demais!!
- Sou da Gestão Inovadora, é evidente que tenho um dashboard com todos os indicadores possíveis!
É óbvio, mas o óbvio tem que ser dito. Misturar dinheiro pessoal e dinheiro da empresa é um pecado de gestão financeira e muito empreendedor ainda faz isso. O faturamento é um indicador importante, mas é indicado associá-lo a outros, como lucratividade, ticket médio, taxa de conversão, etc. O primordial é entender quais indicadores são os mais adequados ao negócio.
Na outra ponta, ter sistemas que gerem relatórios, gráficos ou painéis de informações (os afamados dashboards) é sempre muito bom, mas a insídia reside nas seguintes perguntas:
Eu sei o que quer dizer todos os dados que o sistema me mostra?
O excesso de informação me ajuda ou me atrapalha?
Neste cenário, o que importa é o foco. Definir bem quais são os indicadores que vão traduzir o desempenho do seu negócio e mirar neles. Há muitas startups, por exemplo, com produtos inovadores e tecnológicos que perderam oportunidades por falta de gestão, traremos exemplos nos próximos posts.
Bom, poderia seguir fazendo mais paralelos como esses – que, por sinal, são todos pautados em vivências reais de mercado – mas já é o bastante para chegarmos ao cerne da questão: o que importa é o equilíbrio e o contexto.
Há empresas e situações onde a boa e velha gestão com viés mais tradicional, mais afeita ao controle e a rigidez de processos é mais adequada. Ao passo que há circunstâncias e negócios onde metodologias ágeis, Lean Startup e outras formas de gestão mais pautadas na inovação são bem-vindas.
Além disso, elas podem coexistir pacificamente e com altos potenciais de efeito no negócio, basta extrair o que há de melhor em cada abordagem. A inovação pode vigorar em qualquer negócio, assim como uma gestão de excelência é essencial para o sucesso.
Exercício Prático – Inova aí!
- Escolha 3 problemas que afetam o seu negócio;
- Priorize usando o critério de efeito: problemas que afetam o meu custo x problemas que afetam meu faturamento;
- Eleja um problema como foco;
- Pense em uma solução inovadora para resolvê-lo (Não pense sozinho, chame a equipe e quem mais puder contribuir);
- Para pensar a solução, use a ideia do pássaro na mão (uma solução que possa ser implantada com os recursos que você tem disponíveis);
- Organize a implantação – ideias só surtem efeito quando colocadas em prática! Portanto, organize como implantar a solução, definindo quem pode te ajudar, qual o prazo e como será feito.