Recentemente, o site Glassdoor admitiu ter adicionado nomes reais aos perfis de usuários sem seu consentimento
Os usuários da plataforma, que permite a qualquer pessoa se inscrever anonimamente para avaliar e opinar sobre empresas que já trabalhou, dizem que o site coletou e utilizou dados pessoais sem o consentimento deles.
Muito provavelmente, casos como estes não são novidade para você que esteja lendo este artigo. Uma conta no Instagram hackeada sem motivo. Propagandas que chegam no seu e-mail com o seu nome sem qualquer conexão ou aval prévio. Infelizmente, no Brasil, por mais que ocorram reforços para diminuir este problema, ainda é algo distante de ser 100% resolvido e creditado aos olhos da lei.
Em muitos casos, como aconteceu com os usuários da Glassdoor, nos resta apenas a opção de deletar a conta.
Mas, com a entrada da inteligência artificial no mercado, será que a opção deletar é suficiente?
A crescente movimentação de dados e integração da inteligência artificial (IA) em diversos setores, bancos de dados e tecnologias da sociedade tem gerado um debate acalorado sobre seus impactos na privacidade social.
Enquanto a IA oferece uma ampla gama de benefícios, desde a otimização de processos até o desenvolvimento de soluções inovadoras, seu uso também levanta sérias preocupações em relação à proteção dos dados pessoais.
Neste artigo, vamos explorar os possíveis conflitos entre inteligência artificial e privacidade dos dados, e como isso afeta a sua vida. E, especialmente, para os empreendedores de plantão.
O Poder da Inteligência Artificial: a inteligência artificial é uma área da ciência da computação que se concentra no desenvolvimento de sistemas capazes de cruzar dados, realizar tarefas absurdamente rápidas e decodificar informação em parâmetros que fazem sentido serem utilizados para o benefício humano, sem depender muito da inteligência humana.
Com avanços significativos em algoritmos de aprendizado, machine learning e a capacidade computacional, a IA está sendo cada vez mais utilizada em uma variedade de aplicativos, desde assistentes virtuais até sistemas de diagnóstico médico.
Aí que mora o perigo…
A privacidade dos dados em foco refere-se ao direito das pessoas de controlarem suas informações pessoais e decidirem como esses dados são coletados, armazenados e principalmente utilizados. Você, muito provavelmente, para acelerar o processo de compra em uma farmácia, já deu o seu CPF para o atendente e isso ficou no esquecimento, certo? Errado. Como é utilizado essa informação? Esses dados são lançados em qual banco de dados? É feito algum tipo de cruzamento entre esses bancos de dados extremamente amplos, e muitas vezes conectados a outras informações suas? Loucura, já parou para pensar?
Pois é, com o aumento da coleta de dados em massa em todas as esferas e o desenvolvimento de tecnologias de IA cada vez mais normalizado, sugiro que você se preocupe um pouco em como a sua privacidade e segurança das suas informações estão sendo tratadas.
Se você leu até aqui e já está um pouco quanto assustado, não se preocupe Entenda melhor abaixo:
1° A IA depende de grandes conjuntos de dados para treinar seus algoritmos e melhorar seu desempenho. Certo? Certo. No entanto, a coleta indiscriminada e variada de dados pessoais, em múltiplas esferas da nossa vida, levantam questionamentos sobre o real consentimento informado e o potencial para violações de privacidade. Afinal, até onde esses dados não estão sendo coletados e utilizados de maneira “estratégica”. Recentemente, foi descoberto que os fabricantes de robôs aspirador de pó utilizam esse seu “amiguinho” para mapear a casa e vender os seus dados para quem “se interessava mais”.
2° Algoritmos de IA podem perpetuar ou amplificar vieses existentes nos dados, levando a decisões discriminatórias até, em áreas como recrutamento, crédito e justiça criminal. Isso não apenas compromete a equidade, o olhar “humano”, mas também nos coloca em risco a privacidade das pessoas afetadas por essas decisões. Afinal, o objetivo com a IA é trabalhar de maneira mais “eficiente”, errando cada vez menos. Mas, fica a questão: até onde estamos acertando?
3° Os sistemas de IA são suscetíveis a ataques cibernéticos, que podem resultar na exposição indevida de dados sensíveis. Uma falha de segurança em um sistema de IA pode ter sérias implicações para a privacidade e a segurança dos dados dos usuários. No final do ano passado, o site 23andme de ancestralidade divulgou uma nota dizendo que foi hackeada e que diversos dados genéticos foram roubados.
4° Muitos modelos de IA, como redes neurais profundas, ainda são caixas-pretas, o que significa que suas decisões não são facilmente compreensíveis pelos humanos – ainda. Isso levanta sérias questões sobre a transparência dos processos de tomada de decisão e a capacidade dos usuários de entenderem como seus dados estão sendo usados. Aqui fica a pergunta: você sabe quais dados seus estão espalhados por aí e como estão sendo utilizados de fato??
Luz no fim do túnel…
Embora os desafios entre a inteligência artificial e a privacidade dos dados sejam alarmantes, há várias medidas que podem ser revistas ou até mesmo adotadas para mitigar esses conflitos:
Legislação e Regulação: É fundamental implementar leis e regulamentações robustas que protejam a privacidade dos dados e estabeleçam diretrizes claras para o uso ético da IA.
Desenvolvimento Responsável de IA: As empresas e os pesquisadores devem adotar princípios de desenvolvimento responsável de IA, priorizando a transparência, a equidade e a privacidade desde as fases iniciais de design.
Tecnologias de Privacidade por Design: A integração de técnicas de privacidade por design, criptografias, anonimização de dados e computação segura, pode ajudar a proteger os dados pessoais em sistemas de IA.
E, na minha visão, o principal: educação e conscientização da população. É importante educar o público sobre os riscos associados ao compartilhar dados pessoais, principalmente se tratando de IA e promover uma maior conscientização sobre a importância da privacidade dos seus dados. Ter, nem que minimamente, um controle sobre a inclusão ou exclusão de seus dados nos softwares que utiliza.
Conclusão
À medida que a inteligência artificial continua a transformar nossa sociedade, é crucial abordar os desafios emergentes relacionados à privacidade dos dados. Ao adotar uma abordagem ética e responsável para o desenvolvimento e implementação da IA, podemos maximizar seus benefícios enquanto protegemos os direitos individuais à privacidade e à segurança dos dados. O diálogo contínuo entre os interessados e os ofertantes desses dados incluindo governos, empresas, pesquisadores e a sociedade civil é essencial para garantir que a IA seja utilizada de forma ética e sustentável.